domingo, 4 de maio de 2008

Releitura do poema anterior!

Sei que este post não segue a proposta de poesia, à qual todos estão acostumados. Mas por sugestão de um amigo decidi escrever em prosa, como um conto, ou uma crônica do poema anterior. Espero que gostem. Valeu pela idéia viu Michel?



Diversos motivos e responsabilidades me fizeram passar a noite em claro, escrevendo produzindo o que eu pensava ser ciência, mas que me decepcionou muito ao receber a resposta sobre o trabalho no final daquele dia...Não vou mentir dizendo que não fechei os olhos em nenhum momento aquela noite, na verdade pisquei bastante e cochilei uma hora apenas tentando revigorar as energias.
Amanhecia, e na verdade o sol já estava alto no céu quando decidi dormir. O corpo já gritava e eu tive que ceder ao cansaço...deitar na cama e finalmente dormir...um sono mágico, esperado que levou aproximadamente 4 horas, talvez fosse o suficiente para revigorar as energias depois de uma simples noite sem dormir, mas eu já vinha de dias dormindo muito pouco depois de dias de trabalho intenso, que começavam às 5 da manhã para que às 5:40h eu estivesse no ponto de ônibus em direção às integração, onde eu chegava correndo para o ônibus das 6h, que por sinal ia cheio, lotada...eu ficava pensando como é que cabia tanta gente...até me atrasar um dia e pegar o ônibus das 6:20h, para este a melhor descrição: inferno!!! Chegava no trabalho tomava café, num ambiente, digamos, pouco confortável para nós mulheres e seguia para o dia interminável de treinamento, que acabava por ser prazeroso, diante do todo que eu vivenciava e das informações absorvidas...pegava o ônibus de volta (aquele cuja descrição era inferno) em direção à integração, onde pegava outro ônibus e seguia para casa. Trajeto que me parecia seguro até o dia de hoje, 29 de Abril de 2008.
Depois das 4horas de sono acordei muito triste, com algo ruim no coração e o corpo ainda cansado, em estado sonolento. Almocei rapidamente o que veio no prato, peguei bolsa, caderno e segui para a integração. Como a hora já se adiantava, minha mãe decidiu me dar uma carona, até a integração. Até pensou em me deixar no trabalho, mas decidimos em conjunto (uma decisão muito ruim) que não tinha necessidade. Cheguei na integração com o ônibus já na plataforma, corri pensando em achar um lugar no qual eu pudesse sentar e esperar os 40 minutos até chegar no trabalho. Naquele horário (12horas) o ônibus seguia quase vazio, e no caminho não subia muita gente no ônibus!
Depois de metade dos trabalhadores descerem do ônibus (vale uma explicação: esse ônibus segue para o distrito industrial, logo seus usuários são trabalhadores de fábrica, professoras de pequenas escolas das redondezas e moradores daquela região). O ônibus ficou quase vazio, estimei 15 pessoas no máximo. Foi quando o pesadelo começou... Dois rapazes se levantaram e anunciaram o assalto, não consigo me lembrar em que momento eles subiram, acho que foi na integração mesmo. Um pulou a roleta e abordou o motorista e o outro com um saco preto e uma arma se dirigiu ao corredor, abordando cada passageiro. As imagens passavam em câmera lenta... Cada segundo parecia uma eternidade. Eu vi os movimentos, ouvi barulhos de moedas caindo no chão e muitos murmurinhos que emanavam medo, tensão, apreensão. Mas era como se eu não estivesse lá, participando, mas de longe só observando, até que uma voz mais próxima me fez acordar:
- "Passa a carteira"
Aquele pesadelo que eu observava, era a realidade na qual eu mergulhava. A ficha caiu depois de tantas moedas já terem caído no chão metálico do ônibus. Agi, pensando pouco, mas o suficiente para salvar documentos e o cartão de passes estudantis. Eu não tinha carteira, mas entreguei o que a voz sugeria, e que eu entendi como sendo dinheiro. Em uma fração de segundos, desceram do ônibus: sonhos, o pagamento do aluguel, a feira da semana, a segurança, a identidade de trabalhadores, mães, jovens...todos dentro de um saco preto, que seguiu em mãos que também seguravam o poder de fogo, um instrumento capaz de decidir entre a vida e a morte, separando-as por um gatilho.Fiquei com as mãos trêmulas e os olhos fixos num horizonte, que não parecia ter tanta beleza e que estava embaçado pelos olhos cheios de lágrimas. Naquele instante parei, a mente parou, segurei o choro, até que o ônibus parou num local que me era familiar, desci no trabalho, passei pela portaria e não mais segurei o choro... Nem crachá eu achava mais, passei pela portaria, enxugando as lágrimas, não podia me desequilibrar, tinha que ser forte, afinal ainda tinha metade do dia de treinamento. Segui sonolenta, assustada e concentrada em segurar as lágrimas que corriam por dentro da minha alma. Fui abordada pelo pessoal do RH, com feições preocupadas, eu devia estar pálida mesmo... Balbuciei algumas palavras e fui prontamente atendida: um enorme copo de água com açúcar. Sentei, relatei o ocorrido, e agora as lágrimas caíam sem barreiras.

Cruzar barreiras geográficas traz alguns aspectos desagradáveis, seguir através de territórios inóspitos traz o risco nunca agradável. Participar de um universo tão diverso, pode trazer experiências não só tristes, mas que marcarão nossas histórias, nossas mentes e nossos corações. Mas agora só me resta equilíbrio, porque amanhã vou seguir meu itinerário diário, entrar no mesmo ônibus, dia após dia!

2 comentários:

Filipe disse...

O pior de tudo nessas situações é a sensação de impotência que só sente quem já passou por isso. Depois você fica imaginando como queria dar uns socos nos bandidos, fica imaginando se a arma era de verdade... passa muita coisa pela cabeça, mas você fez o certo, que foi não reagir e manter a calma na hora; dinheiro a gente consegue mais depois, mas a vida da gente, só tem essa mesmo. Bola pra frente e bota a resiliência pra agir!

=**

Anônimo disse...

hummm...
desculpa a demora... eu tava querendo ler com calma. Gostei muito desse tb... principalmente da parte q vc conta como o assalto aconteceu, no inicio do texto a descrição ficou muito sistemática... vc ainda tava escrevendo meio amarrado ai de repente vc libera os sentimentos e começa uma descrição mais emocional... achei legal isso, da pra entender como escrever faz bem p vc, da p ver vc relaxando, hehehehhe. se vc conseguir escrever o texto todo assim, vira uma obra prima do blog!
beijos!